quarta-feira, 16 de maio de 2018

Formação sindical do CES – uma atualização necessária

O Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho – CES foi fundado em abril de 1985 com o objetivo de ajudar a construir um sindicalismo forte, democrático, unitário, enraizado nos locais de trabalho. O CES se propôs também em desenvolver ações como curso básico de sindicalismo, editar a revista Debate Sindical e editar publicações abordando temas candentes do sindicalismo à época: Constituinte, estrutura sindical, entre outras.
O CES se firmou no movimento sindical brasileiro por sua atividade formativa, estudos e aprofundamento de temas do sindicalismo brasileiro por 33 anos. Fundado e emulado por dirigentes sindicais com uma concepção classista de sindicalismo, sob influência do PC do B, o CES ampliou seu raio de formação sindical para um leque de dirigentes sindicais de matizes ideológicos variadas.
 É mister uma atualização dos seus objetivos e, para tanto, faz-se necessário um breve resgate histórico de sua trajetória. Para efeito didático, dividimos a atuação do CES em três momentos históricos: dos anos 1980 até 1992; do ano de 1992 até 2002 e; de 2002 até 2018. Em cada período fizemos uma atualização política e sindical e do mundo do trabalho e, a partir daí, propomos novas plataformas formativas do CES em 2018.
Anos 1980 - 1992: Revista Debate Sindical e fundação da CSC (Ascenso do movimento sindical)
Em 1988 é formalizada a criação da Corrente Sindical Classista – CSC em uma plenária na cidade de Campinas – SP por dirigentes sindicais ligados ao PC do B e outras lideranças de esquerda. A fundação da CSC é efetivada em seu 1º Congresso em fevereiro de 1989, no Rio de Janeiro – RJ, com a participação de 2.536 delegados representando 703 entidades sindicais. No 2º Congresso da CSC, em março de 1990, foi aprovado a integração dos sindicatos vinculados à CSC na Central Única dos Trabalhadores – CUT.
A CUT foi fundada em agosto de 1983. Central sindical de origem de militantes filiados ao também recém-criado Partido dos Trabalhadores – PT. Rapidamente a CUT alcança um grande contingente de sindicatos ao mesmo tempo que dirige várias lutas nas respectivas categorias de sindicatos a ela filiados.
Esse é o período do fim da ditadura militar, da campanha Diretas já e do “Fora Sarney”. Ano da promulgação da Constituição Federal - 1988. Foram anos marcados por grandes greves, inclusive a maior do período: 14 e 15 de março de 1989.
Da sua fundação em 1985 até o ano de 1992 a atividade do CES foi a publicação ininterrupta da revista Debate Sindical e publicação de materiais impressos de temas relevantes da conjuntura e do sindicalismo. O CES também foi a instituição político e jurídica responsável por difundir as ideias do sindicalismo classista em fina parceria com a CSC.
Anos 1992 - 2002: Convênio Nacional de Formação de Monitores e ingresso da CSC na CUT (período neoliberal)
Os primeiros anos da década de 1990 deram início a uma nova fase para o Centro de Estudos Sindicais. O CES iniciou um projeto de Convênio Nacional de Formação de Monitores – CNFM. Nesse projeto de formação sindical cabia ao CES dar elementos básicos de conteúdo e metodologia para dirigentes sindicais fazerem cursos nas suas respectivas bases. O CNFM iniciou sua primeira turma em junho de 1992. No decorrer da década dos anos 1990 foram muitas turmas formadas. Foi o período que a revista Debate Sindical se consolidou como uma revista especializada em temas sindicais e do mundo do trabalho, disputando, inclusive com publicações da academia.
 Em maio de 1991 cria-se a Força Sindical, uma central sindical de conciliação de classes. Esse foi o período de baixa atividade grevista para os sindicatos. Época em que foram realizados cursos nos sindicatos com monitores formados pelo CES.
Na CUT a estrutura formativa dessa central era ampla e abrangia 7 escolas orgânicas espalhadas nas 5 regiões do país. A estrutura da CUT nos anos 1990 abarcava tanto a formação política e sindical como a formação profissional: a qualificação e a requalificação da mão de obra para o mercado de trabalho. Toda essa estrutura formativa recebeu financiamento de parceiros internacionais, assim como verbas do governo federal provenientes do Fundo de Amparo do Trabalhador - FAT.
Essa estrutura formativa cutista absorveu, em parte, a demanda formativa de sindicatos vinculados à CSC. A rede formativa dessa central realizou a formação sindical em muitos dos sindicatos da CSC. Com os sindicatos da CSC atuando na CUT, e pagando altas taxas de filiação a essa central – 10% das receitas, o CES ficou com suas finanças abaladas, já que contava com convênios dos sindicatos da CSC para sua manutenção e atuação. A edição da revista Debate Sindical permaneceu firme, porém o CNFM foi encerrado no início dos anos 2000.
A década de 1990, conhecida como a década perdida, foi de altas taxas de desemprego. Chegando a níveis absurdos de 14% de desempregados no país. O movimento sindical brasileiro nesse período sofreu reveses. Sob a presidência de Fernando Henrique Cardoso – FHC, o Brasil passa por um período de implantação do modelo neoliberal, com privatizações e desregulamentação de leis trabalhistas.
Anos 2002 - 2017: da CUT à CTB, ressurgimento da formação sindical classista (Período Lula – Dilma)
A eleição de Lula em 2002 trouxe certa diferenciação para o movimento sindical quanto a situação política: encerrou-se o período neoliberal de FHC, assim como as taxas de desemprego caíram. Porém o movimento sindical se deparou com outro tipo de problema: a pouca autonomia dos sindicatos frente ao governo popular e democrático recém-eleito. Para os sindicalistas oriundos da antiga CSC esse dilema aprofundou-se ao mesmo tempo em que a corrente majoritária no interior da CUT usava de instrumentos poucos democráticos de convivência interna. Findou-se pela saída dos sindicatos ligados à CSC no interior da CUT, em fins de 2007. Em dezembro de 2007 funda-se a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB por iniciativa da CSC.
Com a fundação da CTB dá-se o início de uma nova etapa na vida do CES. O CES passa a ser a entidade conveniada à CTB que irá elaborar e realizar toda política de formação sindical da CTB. O convênio com a CTB trouxe vida nova para o CES. Incrementou atividades formativas onde anteriormente não havia inserção política da CSC. A formação classista esteve presente nas vinte e sete unidades federativas do país.
No convênio com a CTB foi colocado uma cláusula de formação de formadores sindicais à semelhança do CNFM. Fato este que multiplicou a formação nas bases sindicais a partir das CTB's estaduais.
Não foi possível manter a edição da revista Debate Sindical. Em novembro de 2006 foi editada a última publicação da revista. Foi encerrado um período rico de debate e aprofundamento de temas relacionados ao mundo do trabalho, do sindicalismo e da política do país, através de publicação sindical impressa.
A firmação de convênio da CTB com o CES foi promissora. Os pressupostos de fundação do CES, em 1985, de ajudar a construir um sindicalismo forte e democrático, foram consolidados no interior da central. Hoje a CTB é forte, de luta e defende com ênfase a democracia. Tanto a democracia interna, no âmbito sindical, como um país democrático. Ao longo de dez anos de intensa e ininterrupta formação sindical o CES formou lideranças sindicais da CTB em todo o país. O convênio, porém, foi suspenso em janeiro de 2018.
A situação política nacional quanto aos governos do PT (Lula e Dilma) se esgarça. Em junho de 2013 inicia-se um período de contestação às políticas do governo federal, assim como aos gestores estaduais e municipais. Essa contestação cresce como movimento de massa e ocupa as ruas. Aos poucos vai assumindo um discurso conservador e o movimento ganha cada vez mais adeptos na sociedade. Apesar da quarta vitória do campo petista na presidência da república em 2014 o desfecho da onda conservadora é o golpe da presidenta Dilma em abril-agosto de 2016 e a implantação de um projeto político ultraconservador e de retirada de direitos sociais e trabalhistas para governar o país.
2018: novo projeto para a formação sindical classista (Brasil pós golpe)
Sacramentado o golpe em agosto de 2016 com o afastamento definitivo da presidenta Dilma, inicia-se uma perseguição jurídica midiática contra o ex-presidente Lula. Esse processo termina no ano de 2018 com sua condenação e prisão.
 Concomitante, na sociedade brasileira, se projeta uma onda conservadora com manifestações de fascismo. As instituições, tanto públicas como privadas, também acompanham essa onda conservadora.
Aprova-se no Congresso Nacional a Emenda Constitucional nº 95 que congela por vinte anos os recursos públicos nas áreas sociais. Aprova-se também a contra reforma trabalhista e um devastador processo de privatizações e vendas de ativos de empresas estatais.
Uma nova realidade também ocorre no mundo do trabalho no cenário internacional e no Brasil: a chamada 4ª Revolução Industrial, ou revolução 4G. Essa revolução prevê, entre suas medidas mais drásticas, a substituição da mão de obra humana por computadores no processo produtivo.
A maior experiência formativa do CES foi o convênio com a CTB. Uma parceria que ajudou não só na formação sindical da central, mas também o processo de organização da CTB e o processo de debate político de construção do Projeto Nacional de Desenvolvimento com valorização do Trabalho.
A partir dessa realidade propõe-se um novo projeto para o CES que podemos relacionar por ordem de importância: 1 - Apoiar, assessorar e implementar a Política Nacional de Formação – PNF da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil - CTB; 2- Incluir na grade curricular do CES a 4ª Revolução Industrial onde se incluam as causas, consequências, efeitos dessa revolução no mundo do trabalho. Com isso relacioná-la no novo perfil dos Estados nacionais e nas organizações sindicais; 3 - Incluir na grade curricular do CES o papel dos novos movimentos sociais surgidos a partir do surgimento da globalização, das crises da década de 1970, 1980 e de 2008 e do surgimento do precariado no início dos anos 2000; 4 - Incluir na grade curricular do CES, a partir do novo cenário político internacional e nacional dos movimentos sociais, a centralidade do trabalho, do papel relevante da classe proletária, tendo à frente os sindicatos como seus representantes.
Os desafios políticos da formação sindical classista, que serviu de base teórica e ideológica na sua formação no ano de 1985, são enormes na atualidade. Na data da comemoração dos 33 anos o Centro Nacional de Formação Sindical – CES está diante de mais uma peleja de caráter político sindical formativo.

Carlos Rogério de Carvalho Nunes
Coordenador Adjunto
Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho CES



Referências bibliográficas
BARROSO, A. Sérgio. Revoluções industriais e metamorfoses do capitalismo: aspectos históricos e teóricos. Revista Princípios, nº 150. São Paulo: Editora Anita, 2017.
COSTA, Silvio. Tendências e centrais sindicais. São Paulo: Editora Anita Garibaldi e Editora da Universidade Católica de Goiás, 1995.
CTB Documentos do 4º Congresso. Democracia e luta em defesa do emprego e dos direitos. São Paulo: 2017.
NUNES, Carlos Rogério de Carvalho. Os movimentos sociais e a luta dos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil. Visão Classista Revista da CTB. São Paulo: 2017.
PC do B Documentos do 14º Congresso. Em defesa da nação, da democracia, do desenvolvimento e dos direitos sociais. São Paulo: 2017.
SINDICAIS, Centro de Estudos. Debate Sindical, nº 01. São Paulo: 1986.
____, Centro de Estudos. Debate Sindical, n 56. São Paulo: 2007.
____, Centro de Estudos. Quando você se forma, transforma. São Paulo: 2017.